19 de setembro de 2012

JUSTICEIRO: 6 Horas Para Matar

Uma ousadia refreada.

Cada leitura é única, e mesmo se tratando da continuação de algo ja estabelecido, toda leitura é um momento isolado. Com esse entendimento, compreende-se que em leituras que se permitam continuações, mesmo que a atual seja magnifica não significa que o que vem pela frente seguirá o mesmo caminho de acertos, e nem que a primeira é tão boa que não possa ser superada a seguir. A nova leitura, como qualquer outra, é um momento isolado, lembra?, e mesmo acompanhada de um passado bom ou nem tanto, vem acompanhada também dos mesmos 50% de chances para acertos ou erros. Foi o que descobri, não ao final da leitura, mas por ler JUSTICEIRO: As Meninas do Vestido Branco – que apresentou uma leitura inexpressiva justamente por se ater no expressar –, e, principalmente, por persistir na leitura em questão e compreender que são sim histórias de um mesmo universo, mas nem por isso são equivalentes. Hoje, leitura finalizada, garanto que o erro anterior não se repete aqui, e o que tinha tudo para ser jogado de lado pelo passado negro que nem é tão distante assim, acabou por garantir uma segunda chance, originando o argumento que o introduziu nesse texto e se tornou pensamento – bem antes de se tornar introdução, claro.
 
"Por mais de trinta anos, Frank Castle dedicou sua vida a exterminar de modo implacável a escória criminosa que infesta a nossa sociedade. Porém, durante uma investigação de tráfico infantil na Filadélfia, ele é capturado e envenenado. Agora, Castle tem apenas seis horas de vida, e pretende aproveitá-las da melhor maneira possível: eliminando o maior número de canalhas que puder."

A premissa é interessante, mas se faz escandalosamente previsível ao terminar de lê-la, porque, após alguns segundos de reflexão, nos alcança uma certeza dubitável e deduzimos que o anti-herói sobreviverá ao final do arco porque alguém surgirá com o antidoto, ou, antes das derradeiras seis horas horas Frank exterminará a todos os que o impeçam de alcançá-lo. Qualquer que seja a maneira, é quase certo que o antídoto surgira a tempo de salvá-lo. Mas o dubtável cai por terra quando a leitura se inicia e Frank Castle é envenenado e o vemos, no melhor estilo Jack Báuer ao perceber no relógio o seu maior inimigo, mergulhar de cabeça em uma luta contra o tempo para finalizar sua última missão antes de sucumbir de uma vez aos efeitos do veneno e o tal antídoto é citado, fazendo a certeza ganhar força e tornar-se uma verdade absoluta, mesmo que precipitada – pois estamos nas primeiras páginas do arco –, fazendo cada volume ser conferido como se soubéssemos que aos 45 do segundo tempo o antídoto capaz de derrubar o iminente fim irá surgir, salvando a dia d'O Justiceiro. Contudo, o interessante mesmo é descobrir, ao término da leitura, que essa certeza tem fundamento, mas é apenas uma parada obrigatória em uma estação qualquer, não o destino final de toda a trama, como precipitamo-nos(?) em acreditar.
 
Um ponto atraente e realmente belo nesta trama é a narrativa, que flui com naturalidade em um belo casamento do texto e painéis. Casamento que só não é perfeito por se revelar instável. O ritmo intenso não deixa espaço para fôlego e, vez ou outra, via-se, num painel aqui e ali, o personagem centro da cena em um espaço e já no outro painél o mesmo ocupava um espaço que exigiria ao menos mais um painel para melhor compreensão de seus movimentos e noção de espaço. È complicado compreender o que digo, eu sei. Vamos desenhar? Imagine algo simples como a contagem de um a dez – conte de um a dez antes de continuar –, e, nesta contagem, o autor da obra seguisse da seguinte maneira: 1, 2, 3, 6, 7, 9, 10, pulando alguns números para dar um ritmo intenso a contagem – leia-se cena –, conferindo muito mais emoção por acelerar a trama. O problema é que os números – leia-se painéis – ausentes fazem falta, e essa falta motiva uma incomoda releitura visual de todos os painéis já conferidos da página em questão, numa tentativa de compreender o caminho percorrido por cada personagem. Interrompendo a imersão que a trama garantiu. Mas nos momentos em que os atalhos visuais não são utilizados, tudo flui com muita belaza.
 
Para os personagens em questão não há ressalvas. Todos são pontos fortíssimos da edição! Num acerto primoroso – e que deveria ser regra na escrita –, o autor Duane Swierczynski  – é capaz de soletrar o sobrenome após a primeira lida? Tente repeti-lo ininterruptamente, então. – acerta ao não se apoiar apenas na força do popular anti-herói para crescer, e mesmo mantendo Frank Castle como o grande protagonista, confere momentos de destaque a cada personagem relevante à trama. E é ai que vale mencionar a sujeira que cerca cada um destes – e inclua o protagonista nisso –, em um recurso narrativo jamais imaginado e que se revela brilhante ao escancarar a hipocrisia que envolve a cordialidade forçada dos personagens Benji e Cavalier, sempre sorrindo um ao outro entre palavras agradáveis, mas os pensamentos, numa manobra que tornara confidentes quem antes eram apenas leitores, nos revelavam o ódio recíproco que sentiam pelo outro. Reflexo de um texto seguro, mas ao mesmo tempo em que o texto se mostra seguro, ele se contradiz ao violentar toda a base que estabeleceu sua falta de pudor, atendo-se em finalizar um popular palavrão que, para muitos, é virgula ou ponto final, tamanha a sua banalização. No caso, o palavrão em questão é o singelo "caralho", e sua não utilização faz parecer que o censurado é uma palavra indevida, mas os despudoradamentes explicitos vistos durante a edição "tu vai chupar meu pau", e "Mãe Rússia chupa rola " parecem não se incluir nas palavras que não se prendem às convenções sociais ou da moral. Tão curioso quanto contraditório.

Como um todo, a trama é interessante, tem momentos inesperados e um final perfeito, por ser surpreendente. Vale apena conferir!
 
O encadernado de luxo da Panini Books possui
capa dura, 122 paginas em papel couché e
reúne as edições 66 a 70 da série Frank Castle: The Punisher MAX,
e tem preço sugerido de R$ 17,90.

2 comentários:

  1. essa eu não comprei....

    faltou verba ($$$)!!!

    mas tenho todas do Garth Ennis da linha Max q saíram aqui.... e fico no aguardo agora da fase do Jason Aaron na MAX (q será a próxima)!!!

    Abs!!!

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    1. Sim, também sofro demais com essa falta, Leo.
      Mas depois que descobrir maneiras de se reduir o preço de capa em lojar virtuais, as compras passaram a ter outro sabor. É serio!

      Mas hein... esse arco do Ennis para o Justiceiro também será publicado no formato capa dura?
      Pergunto porque, nesse momento, lei Motoqueiro Fantasma - Estrada para a Danação, também do autor, e estou gostando bastante de sua maneira de escrever.

      Grande abraço, leo.
      E obrigado por abrilhantar minha página com a sua presença.

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