5 de setembro de 2012

CAPITÃO AMÉRICA: A Ameaça Vermelha

De todos, o retorno mais aguardado.

"Voltar é bom, como um som que a gente ouve novamente." Citando um trecho da canção popular que, com beleza e poesia, expressa o prazer das emoções revividas, encontrei a forma mais simples e eficaz de apontar meu contentamento ao revisitar esse universo e reencontrar companhias queridas de outrora, descobrindo um pouco mais de suas verdades ao desfrutar um pouco mais de suas companhias. Voltar é bom, pelo simples fato de não haver lugar como o lar, como não há tantas citações poderosas como esta, somente por esta ser tão verdadeira e unânime aos seres pensantes. Não há lugar como o lar, e não há, nos corações humanos, sentimento mais poderoso que o prazer do voltar.

"A MORTE VEM DO PASSADO.

Na trilha de seu recém-reencontrado parceiro Bucky, o Capitão América vai à Inglaterra e luta ao lado de dois ex-colegas Invasores – Spitfire e Union Jack – para impedir que o Caveira Vermelha arrase Londres com um pesadelo dos tempos da 2ª Guerra Mundial. Para isso, porém, ele terá de enfrentar inúmeras ameaças, como o novo Grande Mestre, Ossos Cruzados e Pecado, a insana filha do Caveira Vermelha! No segundo volume da fase do premiado roteirista Ed Brubaker (Criminal), novos e surpreendentes desafios aguardam a Sentinela da Liberdade!"

Não é de hoje que Ed Brubaker se revelou um favorito da escrita, como não é a primeira vez que, aqui, cito a
verdadeira admiração que tenho por este profissional. Ao terminar de ler o volume anterior, OSoldado Invernal – que dá o pontapé inicial ao relacionamento do escritor com o Capitão América –, e voltar a terra firme após uma viajem inesquecível, a vontade real era tirar da estante o volume seguinte e emendar um arco no outro, voltando as alturas enquanto leitor de A Ameaça Vermelha. Contrariando instintos, assumi uma postura tão inesperada quanto sofrida e o desejo de alçar um novo voo conduzido por Ed Brubaker, surpreenda-se, me levou a, numa jogada estratégica, posicionar o volume em questão no fim da fila de encadernados a serem devorados, adiando o momento da leitura por alguns meses a fim de fazer da ansiedade uma aliada para o momento de alçar um novo voo sob comando do escritor. Os meses passaram e, dessa vez acompanhado pela beleza de um universo ja estabelecido e com personagens reluzentes e loucos para saírem da escuridão de um livro fechado, a edição 01 do novo volume se abriu, o novo voo se fez e Ed Brubaker, como bem havia se provado no passado, reafirmou-se um exímio condutor, tornando o cinto de segurança um singelo acessório para embarcarmos em sua nave, garantindo a certeza de mais um voo alto e prazeroso... mesmo com tantas acrobacias. Mas essa certeza foi um tanto precipitada, me lamento. Uma precipitação que, agora sim com absoluta certeza, afirmo, foi originada pela qualidade impar de outros trabalhos do autor devidamente conferidos e que me levaram a certeza que este era um equivalente. E ele é... mas tropeça em acertos do passado.

Se comparado ao volume anterior, a continuação não se mostra assim tão atraente por ousar menos, mas muito menos. Principalmente nos quesitos: "Capitão América em ação". Muito do visual deslumbrante que se viu no pontapé inicial não se repetiu aqui: (1 - a performance que confere o espetacular movimento no lançamento do escudo; (2 - movimentos acrobáticos consideravelmente reduzidos; (3 - O Soldado Invernal. Este último o ponto principal que levou ao desapontamento. Uma ferida que surge na maneira escolhida por Ed Brubaker para abordar o interessante personagem, imprimindo nas páginas um incômodo déjà-vu quando percebe-se que este não evoluiu junto aos seis meses que separam as narrativas, e sua função aqui é semelhante, senão a mesma, a conferida no passado: fugir. Logo ele, o Soldado Invernal, que pareceu tão promissor ao final do volume anterior – que carrega seu nome como subtitulo dada a sua importância –, aqui, continua um mistério tão grande para a trama, mesmo após seu passado ter sido esmiuçado de maneira clara, eficiente e tocante no já citado volume predecessor. Esse fato foi um erro, e não há desculpas para uma escolha que ja nasceu errada. Mas, em meio a esse erro, há tantos acertos como a qualidade dos textos, o traço impecável e as cores – essa última um espetáculo a parte. Todos se mantendo em nível de excelência.

E logo o defensor da tese de que "o texto deve sempre sobressair-se a imagem" reclama da falta de ação. È até irônico. Mas vale lembrar que essa ação origina os ângulos únicos e magníficos de Steve Epting e Mike Perkins para os movimentos cinematográficos do Capitão América em ação. Como vale lembrar também que a ação acontece do inicio ao fim, mas a movimentação icônica original dos desenhistas tem espaço reduzido, só ganhando destaque na reta final.

Contudo, se a abordagem para o Soldado Invernal prejudica tanto a narrativa, por que o Capitão América de Brubaker continua tão cativante? Porque ele está muito além da super força e das acrobacias impossíveis, mas que encantam, a qualquer um de nós. Porque é interessante ver um super-herói em momentos inusitados... seja no movimento simples de sentar-se numa cadeira e dialogar com sua parceira... por vê-lo, com a delicadeza que somente um verdadeiro homem é capaz de exibir, suspender a namorada com a força bruta e girar como um louco em um momento de profunda alegria, ou por vê-lo se deitar em uma cama e perceber que possui humanidade como todos nós. É por tudo isso, mas, principalmente, por encontrar em seus olhos verdades tão humanas que tornam impossível não se encantar por suas ideias e imagem. Contemplar Steve Rogers enquanto este conversa com seus companheiros está entre os momentos mais compensadores da leitura. Ainda insiste num por que? Porque encarar o rosto daquele personagem e não perceber como seus olhos espelham o que o semblante desenha em linhas de expressões que trazem a tona o peso do fardo de ser um homem decente num tempo indecente, é subaproveitar toda a leitura. É deixar de lado a oportunidade de realmente ler uma história, para apreciar sequencias de ação e ler os planos que levam a elas. A real força do Capitão América, linda e inspiradamente escrito por Ed Brubaker, está em Steve Rogers. E não apenas ele, mas principalmente. Se existe algo interessante de se observar nessa história, é a força real de toda a sua trama: o texto – sempre o melhor caminho. O que, diretamente, leva a personagens carismáticos e muito, mas muito bem construídos. E é por tudo isso – me repito – que a abordagem errada para o Soldado Invernal se torna uma pequena turbulência sofrida durante a ótima viajem, e nada mais.

Outro ponto a favor da trama são os vilões. Dos mais fantasiosos como o Caveira Vermelha ao humano sem escrúpulos Aleksander Lukin. Sempre que a trama faz destes o centro da narrativa, é certeza que mais um passo será dado para a progressão da trama. E isso, além de aumentar a importância dos personagens, os fazem muito mais interessantes aos olhos do leitor. Assim como Synthia Shimidt, a filha do Caveira Vermelha, em sua faiscante relação com Ossos Cruzados. Ao lado da ameaça remanescente que é o vilão, mesmo que para o mal, forma uma dupla tão atraente quanto Steve Rogers e Sharon Carter. Ao adotar o codinome "Pecado", Synthia se torna a personificação da loucura e do sarcasmo, enquanto Ossos Cruzados permanece sendo a força bruta aterradora e cruel. Eles vão da violência mútua a parceria concreta, que leva a momentos interessantes e icônicos como o encontro com Sharon Carter na batalha final. Seria cômico, não fosse a tensão da falha que permeia o fim do volume.

Por fim, é impossível não saber que o triunfo de Steve Rogers é derradeiro, e essas são palavras que doem com verdade. Pois é por esse personagem fascinante que os olhos transbordam em lágrimas ao saber que, no próximo volume – A Morte do Sonho –, lhe aguarda um destino que, com todo respeito ao venerado escritor, leva a um desejo sincero de enfiar a mão na fuça de Ed Brubaker e exigir saber aonde ele estava com a cabeça para erradicar a joia da casa? ...Isso é assunto para a postagem da próxima edição do bandeiroso.

O encadernado de luxo da Panini Books possui
capa dura, 218 paginas em papel couché e
reúne as edição 15 a 21 da revista  Capitain America,
mais o especial Capitain America 65th Aniverssary e custa R$ 60,00.
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