27 de julho de 2012

BATMAN - O Cavaleiro das Trevas Ressurge

(SPOILER. Leia somente se você ja assistiu ao filme)

A vida é uma piada desagradável.

Ela é cheia de sabores, aromas e cores, mas, mesmo em meio a toda essa profusão... não possui beleza. Claro que não. Porque a beleza da vida está no poder!, e depende de sua conquista para ser encontrada. Seja o poder aquisitivo, que torna qualquer um capaz de garantir o sorriso de um filho, o amor de uma esposa e a recompensa de uma velhice tranquila aos que dedicaram amor quando era incapaz de se impor diante de uma sociedade; seja o poder de fazer, que garante coragem para seguir em frente diante de adversidades e, para o bem ou para o mal, alcançar a tentativa de superar o que um dia foi um obstáculo em uma jornada. Assim, ao final de O Cavaleiro das Trevas Ressurge, mas necessariamente considerando toda a jornada de Bruce Wayne desde Batman Begins, surgiu a lição que recebi: A vida é uma piada desagradável... mas apenas para quem não sabe sorrir diante dela. Apenas para quem não sabe vivê-la.

E Bruce Wayne jamais soube.

Porque Bruce Wayne morreu antes de ter a chance de conhecer as cores da vida; os aromas e sabores que ela, em toda a sua abundancia, poderia lhe proporcionar. Porque Bruce Wayne
morreu junto com seus pais, dando lugar a um monstro obsessivo que emergiu num momento de escuridão, condenando-o a condição miserável e amadurecendo consigo, incrustando como único objetivo encontrar a beleza da vida ao alcançar o poder de fazer. E ele, mais do que qualquer um, alcançou. De todos os que tentaram, Bruce foi o único que realmente conseguiu. E foi nesse momento que a real beleza da vida bateu a sua porta, surgindo quando um amor infantil recuperou a força no momento em que seu monstro ganhou contornos humanos diante da única que poderia mergulhar em sua escuridão, lhe estender a mão e oferecer a possibilidade de tornar-se humano outra vez, anulando o monstro a que a vida o obrigou a se tornar para suportar vivê-la. Mas apenas para perdê-la, e então perceber que tudo não passou de mais um degrau decadente de sua vida, que o obrigou a mergulhar ainda mais fundo em sua escuridão, lhe tirando a única realidade que ainda o permitia seguir em frente: O poder de fazer.

É a esse Bruce Wayne que somos apresentados logo no inicio, ao perceber, em comentários de outrem, que a reclusão do "Bilionário Playboy" é uma doença cronica que, somada a todas as suas dores, torna apático o monstro que fez do protagonista um verdadeiro herói.

Dizer que Christopher Nolan estava inspirado quando iniciou sua jornada no universo do Homem Morcego é um erro tão grosseiro como afirmar que a água está molhada. Não é que ele esteja/estava inspirado, mas que possui o dom genuíno para o que se propôs a fazer: escrever para pessoas e dirigi-las em cena. Nolan não é um deus entre humanos, apenas um profissional de grande capacidade que exerce sua função com dignidade e competência, reconhecendo em rostos humanos suas capacidades e conquistando-os e conduzindo-os por caminhos gloriosos que sua maturidade artística fora capaz de prever. Assim, levando-os a nos encantar diante das câmeras. Não é um caçador de bilheterias, mas um verdadeiro contador de histórias. Coisa rara no mercado e, por isso, ardorosamente aclamado por seus seguidores.

Anne Hathaway ou Selina Kyle? Difícil dizer. Pois a bonequinha de Hollywood transformou-se numa deusa da sensualidade. Numa prodígio da enganação – o momento onde simula-se uma mulher frágil e desesperada para escapar das algemas figura entre os melhores momentos do longa. – E não tome isso apenas para os personagens que a cercavam... pois, como expectador, levei fé em sua cumplicidade com o Morcego e, junto a ele, me decepcionei de forma inexplicável a sua covardia e egoismo. Porque seu ato, como confessou, foi para livrar-se da perseguição de Bane. Mesmo que para isso precisa-se condenar outra vida, como condenou. Uma personagem interessante por ser imprevisível. Mas indigna de um homem como Bruce Wayne.

Jhon Blake. Outro personagem que poderia classificar como decepcionante – apenas pela expectativa gerada mundialmente, onde este se revelaria Eddie Nashton, conhecido como Charada, ou o Azrael, substituto do Batman após ter a coluna quebrada por Bane em A Queda do Morcego, um arco da revistas em quadrinhos do Batman –, revelou-se a melhor adição ao elenco. Um personagem essencial para a evolução da história. Um herói por natureza. O menino-prodígio que o Batman merece! Baseado em seus últimos momentos no longa, onde revela seu nome de batismo, Robin – numa alusão que homenageia o personagem de grande importância na vida do herói –, percebo em Blake mais de Tim Drake do que Dick Grayson, apesar de este ser o primeiro Robin. A forma como o personagem de Joseph Gordon-Levitt chegou a identidade de Batman levou direto ao perspicaz menino surgido após a morte de Jason Todd, o segundo Robin. O momento onde se revela conhecedor do maior segredo deste universo foi compensador e levou direto ao arco Morte em Família, onde Drake surge com postura semelhante. Uma maneira interessante de se utilizar um personagem tão polêmico.

Tom Hardy. Embora sua atuação como o terrível Bane seja espetacular – não me permito pontuá-la por ter assistido ao filme dublado e, sei, perdi muito de sua atuação. Por favor, não me julguem. Não havia sessão legendada no cinema mais próximo e eu não iria suportar um dia a mais sem ver a trama –, o vilão foi um pouco menos do que eu esperava. Com isso não entenda um fracasso, pois alcançou a perfeição por sua postura indiferente e segura desde sua primeira aparição. Frio e calculista. Forte e corajoso. Inteligente e ágil. Havia nele tudo para se tornar uma das maiores forças vilanescas da sétima arte. O que seus minutos finais corromperam incomodamente. È, porque foi frustrante descobrir, ao final, que Bane era apenas a força devastadora que levaria Gotham as ruínas em um plano conduzido por trás das cortinas por uma personagem sem luz própria, que todos os atentos ao longa sabiam quem realmente era desde antes de se iniciar a sessão. Como reduzir a auxiliar o personagem que esteve a frente das câmeras e movimentou o filme do inicio ao fim? Difícil de engolir. Pior ainda é a sua morte: rápida, inesperada e por uma mão alheia as de Batman. Eu esperava um final diferente, onde Bane fosse tão longe (como foi) que obrigasse o herói a burlar sua primeira regra: “não matar”. E, assim, levá-lo a uma rejeição tamanha ao ato que o fizesse odiar o Batman, por mais necessário que tenha sido o movimento extremo. Abandonando a capa e o capuz definitivamente. Mas o que vi foi um desfecho pavoroso para um personagem incrível, que tinha tudo para se tornar eterno, ao lado do Coringa de Leadger.

Um erro notável. Em O Cavaleiro das Trevas Ressurge, por consequencia do último ato de Batman em O Cavaleiro das Trevas, o herói é visto pela população de Gotham como o verdadeiro vilão responsável pelos crimes cometidos por Harvey Dent/Duas Caras. O que me leva a considerar um personagem pequeno de O Cavaleiro das Trevas,. Pequeno, porém, dono de uma informação capaz de abalar os pilares de Gotham e mudar todas as nuances de O Cavaleiro das Trevas Ressurge. È claro que me refiro a Coleman Reese, o Advogado das Industrias Wayne que descobriu a identidade do Batman e ameaçou, diante das câmeras de Gotham, revelá-la no programa de TV e teve seu ato inibido por um telefonema do Coringa, onde afirmava explodir um hospital se Reese não estivesse morte em uma hora. Pois é... Reese não morreu. E parte disso deve-se a Bruce Wayne, que condenou sua Lamborghini para deter o veículo disposto a atingir a viatura onde estava. Considerando que Gordon, Wayne, Alfred e Lucius eram os únicos cientes da verdadeira face de Dent no filme que fecha a trilogia, o que motivou Coleman Reese a não revelar que o Bandido mais procurado nos últimos 8 anos tratava-se de Bruce Wayne? Uma falha. E nada pequena.

Aliados. Ah... revisitar esses personagens em momentos inéditos de suas jornadas foi como rever um velho amigo depois de muito tempo. De Alfred ao, agora solitário, Comissário Gordon. Passando por Lucius Fox e sentindo uma fagulha de dor ao ver a foto de Rachel Dawes. Esses personagens são o coração da trama, e o simples fato de saber que podemos perdê-los a qualquer momento, vide Rachel, se tornou um intenso desconforto durante toda a sessão. O momento em que Alfred deixa Bruce e os holofotes me fez considerar coisas terríveis... A ameaça da morte de Lucius Fox me levou a afundar na poltrona... A, possível, segunda morte de James Gordon seria algo inaceitável... Putaquepariu!!! Esse filme é um risco de morte para os cardíacos!!! Acredite em minhas palavras (é claro que você vai acreditar. VOCÊ TAMBÉM FICOU ASSIM!!!), porque são verdadeiras: Meu coração bateu acelerado da primeira metade até o ato final. E não é o fato de o filme nos puxar para dentro, mas de possuir figuras tão apaixonantes. Personagens que amamos tanto devido as inúmeras visitas desde que os vimos pela primeira vez no distante 2005, que a possibilidade real de perdê-los se torna angustiante... como foi. Era uma possibilidade cogitada. Mas de acreditar a ver existe uma grande distância popularmente conhecida por "dúvida". Após o ato final do Morcego eu não sabia como reagir. Sabia apenas que era inevitável e as lágrimas vieram. Corriam velozes, agredindo minha vontade de contê-las. Mas o que é uma vontade frente a um sentimento? Nada. E foi nesse momento que descobri naquele que sempre acreditei ser um verdadeiro herói, um verdadeiro monstro. Porque jogar no lixo a dádiva de viver por um ideal, por mais virtuoso que seja, é tão monstruoso quanto um assassinato. E Bruce Wayne tornou-se o assassino de si!!! Não por seu último ato, que tinha o claro objetivo de recompensar a fé de uma nação perdida, mas por sua crueldade consigo, que o tornou capaz de matar-se em vida. Anulando-se de tal maneira que sua verdadeira face tornara-se o rosto que os infratores temiam, mascarando-se desonrosamente com o rosto nu. Ele é um monstro!!! Sim. Mas um monstro digno de admiração, que deve ter seu sacrifício pela humanidade tomado como exemplo. Um sacrifício capaz de recuperar a humanidade do homem, apresentando-lhe os sabores, aromas e cores de uma vida feita para ser vivida. Um bálsamo para os descrentes.

Um Jesus Cristo da era moderna.

6 comentários:

  1. Bela critica HaeS

    Essa obra cinematográfica merece ser assistido varias vezes na tela grande.

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    1. Obrigado, Bruno.

      Além de voce está coberto de razão, saiba que irei seguir suas palavras com o mais genuino prazer. Porque rever esse filme é uma obrigação. Não, é, na verdade, mais de uma obrigação. Porque eu não irei me contentar com apenas mais uma assistida.

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  2. Ótimo texto Marcelo.

    Impressionante como o Nolan revolucionou o cinema de entretenimento de qualidade. A trilogia Batman e A Origem são exemplos máximos disso. em seus roteiros e filmes toda e qualquer informação ao longo do filme de alguma forma se encaixará na história e deixa margem a todo tipo de interpretação.

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    1. Valeu, Marlon.

      Sim, o Nolan estabeleceu um padrão de qualidade que, se os futuros diretores (e não apenas do Batman, mas de toda a Hollywood), não estabelecerem como modelo a ser seguido (não plagiar, mas seguir no comprometimento em ser um profissional de verdade), estarão fadados a estarem no segundo escalão da lista. De qualquer lista postivia.

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  3. CRITICA INCRIVEL E IRRETOCAVEL A ALTURA DO FILME...CONCORDO QUE O BANE FOI A GRANDE ESTRELA DO FILME E TER O FIM QUE ELE TEVE FOI RIDICULO EM MEIO A UMA OBRA QUE FECHA,BRILHANTEMENTE, COM UM IMENSO LAÇO VERMELHO DE VELUDO UMA TRILOGIA TAO BOA QTO BATMAN...MAIS A DE SE CONVIR Q A ANNIE VAI TER QUE COMER MTO ANGU COM WHISKAS ATE CHEGAR AOS PES DA MICHELLE PFEIFFER...PARABÉNS PELA CRITICA,VC A-R-R-A-S-O-U!!!!

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    1. Imagina. Deixei de citar tantas coisas... e olha que não por falta de texto.
      Mas um imenso obrigado pela presença, Alex. É sempre bom quando nossa turma vem curtir o nosso trabalho por livre e espontânea pressão.

      P.S. Anne é a melhor MULHER GATO!

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