23 de junho de 2012

OS NOVOS VINGADORES: Motim

O prazer da leitura renovado pela excelência.

A essa altura do campeonato as histórias correm o grande risco de parecerem comuns e repetitivas. Tudo já foi pensado, escrito e publicado. De invasões alienígena aos portões do inferno. E a máxima vai a mil quando a realidade se aplica as história em quadrinhos, porque, dada a intimidade com os personagens deste universo que quase nos permitem adivinhar suas palavras e prever seus atos diante de algumas situações, a zona de conforto pode deixar de ser interessante e o todo correr um sério risco de perder o brilho. Mas todo presságio cai por terra quando o homem por trás da cortina é Brian Michael Bendis, que te desafia na máxima: "tudo já foi feito", mostrando que, no meio desse tudo, existe a mais valiosa ferramenta para se conduzir uma narrativa com excelência: os seres humanos e seus relacionamentos. E é ai que o mestre dos diálogos te deixa com sabor doce na boca ao mostrar que sua teoria é falha, e lhe invadir com uma nova certeza: Nem tudo já foi feito. Te surpreendendo novamente.

Os Vingadores não existem mais. Sua ausência abre caminho para um insidioso plano de fuga em massa da balsa, a instalação de segurança máxima da ilha Ryker, onde os supre criminosos mais perigosos do mundo cumprem pena.
Mas um grupo de heróis reunidos pelo destino se levanta para impedir que isso aconteça. Testemunhe o nascimento dos... Novos Vingadores!

Em meu primeiro contato com a Mulher-Aranha, a grande pergunta foi: Por que? Por que diabos alguém iria querer ler um personagem derivado do Homem-Aranha? Ainda mais com este dividindo páginas com o mesmo. E a resposta foi das mais positivas. Frustrando expectativas, Jessica Drew mostrou força suficiente para se fazer ver como uma verdadeira protagonista e revelou que sua única ligação com o Aranha está na alcunha heroica, não possuindo parentesco algum com Peter Parker, deixando de ser uma sombra para se tornar o foco. Ela é dúbia, sensual e indiscutivelmente necessária a trama.

Não se pode dizer que a premissa é das mais simples, porque a dificuldade do trabalho se multiplica quando mais de um protagonista está no centro da questão, tendo que redobrar os cuidados para não desmerecer esse ou aquele. Mas pode-se dizer que existe uma forte atração entre texto e leitor que faz o tempo parar e a leitura jamais se tornar cansativa, nos cegando para o final do volume e nos levando a ultrapassar consideravelmente o número de páginas planejado para a leitura, avançando o próximo número sem consciência do fato e, assim, prolongando os momentos deliciosamente prazerosos de imersão numa realidade ficcional, porém constantemente sonhada como real, mesmo quando as páginas se fecham. Como leitor de autores maravilhosos, brilhantes mesmo, e, até geniais, em alguns casos, afirmo que nunca, eu NUNCA vivi uma relação tão harmônica diante de uma história. Eu poderia passar horas lendo os personagens mesmo se estes estivessem sentados à mesa, conversando, apenas, porque o discurso era forte, embasado e real. E isso é o que faz tudo valer apena! Como se não bastasse toda essa inclinação para a excelência, aliado ao belíssimo texto está a ambientação da trama, onde, cada volume é dono de um colorido todo especial por possuírem, cada um, um habitat diferente. Da penitenciaria a liberdade de uma floresta. Do céu ao inferno. Do pé no chão aos desvarios de uma mente atormentada. A troca de ambientes, além de garantir renovação, proporcionava a clara sensação de avanço a trama, figurando em imagem a progressão de todo o texto.

A composição da obra foi dura, e o excelente resultado final está ai para mostrar isso. Para chegar a esse resultado, foi formada a equipe de desenhista com David Finch no elenco, ao lado de Steve Mcniven e frank Cho. Para essa equipe, a única ressalva quanto a satisfação vai para o desempenho do Capitão América em ação. O texto está todo ali, forte, encorajador, mas é só. Como figura, o herói não acontece. Mas com isso não quero dizer que a equipe falhou... longe disso. A questão real são os olhos acostumados com o Capitão de Steve Epting em suas espetaculares cenas de ação que proporcionam movimento real ao personagem na sua série mensal e tornaram-se definitivas. Mas repito, isso não quer dizer que a arte falhou, e a cena inicial, num painel que toma uma página inteira, onde Maxwell Dilon põe a máscara e volta a ser o Electro serve como prova. Além de dar o tom exato que a trama seguirá (como Electro, toda faísca provoca um ato maior que o esperado), leva a cena mais elegante, onde o apagão que antecede o atentado a balsa se faz, preparando o terreno para o impactante painel de folha dupla, onde a Balsa sofre um abalo na cena mais deslumbrante de todo o arco.

Por fim, da sobriedade do Capitão América a veia cômica do Homem-Aranha, passamos por um personagem marcante, cujo drama é sincero e leva ao capitulo mais espetácular do arco, quando sua mente deixa de ser território desconhecido e trás de volta o mais poderoso de todos os Heróis.

O encadernado da de luxo da Panini possui
capa dura, 385 paginas, papel couché e reúne
as edição 1 - 15 da revista New Avengers e
custa R$ 79,00 e pode ser encontrado em livrarias e comic shops.
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