16 de maio de 2013

OS SUPREMOS Vol. 01

É aquela velha história que você confere certo de que é mais um espetáculo de ação, e se surpreende ao perceber que a ação está em segundo plano. Os personagens e suas interações são o cerne de tudo o que está por vir.

Tardiamente tive minha iniciação no universo em quadrinhos dos heróis mais populares da MARVEL e DC Comics  que conheci pelos desenhos e filmes. Os desenhos (da década de 90) foram os grandes responsáveis por me fazer amá-los, e está como exemplo aquele robusto HOMEM-ARANHA da animação dos 90's que não me deixa mentir. Amava tanto o personagem que quase enfartei quando, pela TV, assisti pela primeira vez ao comercial do filme a estrear em 2002, onde descobri que o HOMEM-ARANHA que se balançava entre prédios era de carne e osso. Eu era inocente. Eu não tinha internet naquela época, e a surpresa foi verdadeira. 

A partir daí, entre frustrações e jóias cinematográficas, descobri em definitivo os quadrinhos quando me vi enlouquecido pelo filme WATCHMEN e quis conferir o porque os fãs da Graphic Novel não amavam o filme tanto quanto eu. Não demorou muito e eu li a HQ da série WATCHMEN, continuei amando o filme mas compreendi a insatisfação dos fãs e descobri o prazer que a leitura de uma HQ pode nos proporcionar. Partir disto para as pesquisas baseadas em opiniões de leitores-fãs sobre qual HQ comprar foi um processo natural, e um título recorrente nesta busca sempre foi OS SUPREMOS. O problema é que a edição encadernada se encontrava esgotada há muito, e nada de republicações a vista. Mas dizem que quando menos se espera é que a sorte vem... a sorte veio. Veio, e a HQ foi relançada pelo selo PANINI BOOKS. Edição Encadernada em um BIG formatão comprada, havia muita expectativa em torno da leitura, e havia também um certo receio por tudo o que essa expectativa proporcionava, porque esse é o caminho que segue em paralelo com a frustração. Mas os anos que Mark Millar e Bryan Hitch dedicaram as 13 volumes da edição não foram em vão, e agora que o primeiro arco fora devidamente conferido, revelo aqui tudo o que sempre quis descobrir.

"Homem-Aranha e Duende Verde. Os X-MEN e Magneto.
Estranhos seres com incríveis poderes surgiram para 
desafiar a ordem estabelecida, e os cidadãos comuns
estão estupefatos e apavorados. A solução do governo:
um pequeno, porém letal esquadrão conhecido como 
Os Supremos, criado para nos proteger 
das crescentes ameaças a humanidade!"

Inaugurando a linha Ultimate da Marvel  que tinha o intuito de reiniciar seu universo e apresentá-lo a um novo público nos primeiros anos do novo século, sem a bagagem dos seus então 40 anos de jornada , OS SUPREMOS revela-se mais do que o primeiro passo na nova empreitada rumo ao futuro logo no primeiro volume, quando pode-se perceber que tudo o que há em termos criativos foi pensado e feito com o objetivo de alcançar o extremo da qualidade. Do espetáculo visual que se vê em cada painel, passando pelos diálogos fortes e poderosos — mas que não fogem da leveza, permitindo aos personagens conversas descompromissadas, quando preciso —, culminando em uma ação avassaladora por apostar no tom humano conferido aos personagens que garante interações memoráveis que levam a frases que jamais sairá de sua cabeça. O "A" na testa do Capitão América é uma máxima dessa afirmação. Além de tudo isso, vale ressaltar que sua trama serviu como base sólida para o filme OS VINGADORES em muitos quesitos. Quer exemplos? O HULK tratado como possível ameaça no início e aliado no fim, e a etnia de Nick Fury.

Narrado em uma abordagem madura e ambientado em um universo que busca o realismo para tornar real toda a fantasia, Millar não permite que as ações de seus personagens fiquem nas ameaças e é ousado o bastante para compor um HULK sedento por sexo (mais alguém temeu o que isso poderia significar para a saúde de Betty Ross?) e um Hank Pym com problemas de autoestima que acaba por se tornar um escroto que desce o braço na esposa. Mas Millar não apenas ousado por adicionar elementos aos personagens, é também inteligente o suficiente para manter alguns como sempre fora, e nessa afirmativa entra o soldado Steve Rogers que, em sua essência, continua a ser o líder natural que se espera e o juiz implacável entre os nossos heróis. Inconformado com a violência de Hank para com a esposa, o herói sai em sua busca e o porradeiro entre heróis mais foda da edição tem início.

Por falar em porrada, quem esperava um arco onde a pancadaria sobrepusesse a trama se enganou, e feio. A ação é sempre bem-vinda, mas só é curtida quando faz sentido dentro da trama. Ver personagens se socar a esmo deixa de ser interessante quando não se compreende o por que dos golpes. Mas aqui foi decidido — em palavras dos autores — a ideia de que não haveria sequencia enlouquecidas de ação a cada edição, mas, a cada quatro volumes, um, obrigatoriamente, deveria ter aquele impacto visual que se espera de um arrasa-quarteirão. Assim foi, e funcionou magnificamente. Pois o fato de eu ter entendido a revolta do Rogers em sua ação contra Hank me fez ansiar por cada golpe desferido e torcer para que o derrubasse do alto de sua arrogância. É comum perceber que em muitas HQs as lutas não são mais do que um recurso visual para conferir testosterona à narrativa e em muitas não há palavra alguma nos eletrizantes painéis que compõem a ação além de onomatopeias, fazendo os socos e pontapés funcionarem como algo imposto a trama pelo fato de o protagonista ser um super-ser. E quando se alcança essa noção, o esmero dos autores na criação do texto e na composição dos painéis eleva tanto a qualidade do material que passamos a sentir um sincero carinho pela história porque ela também foi feita com sincero carinho para todos nós.

Por fim, trata-se de um verdadeiro blockbuster das HQs, e dada a qualidade do roteiro e arte, não surpreende quem já leu a edição quando, nos extras da (tentativa de) animação de OS SUPREMOS, se depara com palavras que afirmam que Mark Millar pensa nos painéis da edição como storyboards de um filme a se produzir, e por isso escreve cada cena com tamanho impacto. Por falar em material extra, para quem gosta de conferir a evolução de uma produção cinematográfica, o material extra da produção se faz tão importante quanto o filme. Apesar da pegada cinematográfica, estamos falando de uma HQ, mas que não foge as regras das memoráveis edições em DVD lançadas no passado, recheadas com toneladas de extras, e nos presenteia aqui com páginas interessantíssimas de conversas entre Millar e Hitch que apenas elevam a conteúdo da obra quando aprendemos os pensamentos dos autores. Realmente uma edição valiosa.

O Encadernado de luxo da PANINI BOOKS possui
capa dura, páginas em papel couché e 
reúne as edições 1 - 13 da revista THE ULTIMATES: vol 1 ao custo de R$ 84,00.
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