23 de agosto de 2012

BATMAN e Filho

Da desconfiança a aclamação.

Existem vários tipos de artistas: dos que acreditam serem aos medianos, passando pelos comuns, inovadores e, no topo da escala, os geniais. De todos, vou citar apenas dois: Os que impressionam a cada obra lançada (geniais), e os que sustentam seu nome por um único momento de inspiração (comuns). Este segundo, com muita facilidade, atribui a Grant Morrison no momento em que percebi a aclamação por parte de seus leitores e não ser capaz de compreendê-la. Cheguei a certeza de que o cara, em um passado distante, teria escrito algo grandioso e desde então apoiava seu nome no mesmo. Seria a explicação mais plausível para tamanho exagero dos seus fãs.

Usando de sinceridade: "Peraí, meu... cês tão falando daquele merda que escreveu aquele lixo?!", foi o pensamento que me ocorreu ao associar seu nome a uma leitura terrível, numa trama que comecei a ler com boa vontade até, e, antes da metade, percebi que persistia na leitura pela obrigação pessoal de querer terminá-la, apenas por tê-la iniciado: Liga da Justiça - Nova Ordem Mundial. Um fato intimamente pessoal  de gosto mesmo   e que levou ao total desinteresse por BATMAN e Filho antes mesmo de iniciá-la, mesmo tendo como protagonista o Batman, personagem tão amado. Isso, claro, porque o até então supervalorizado Grant Morrison é responsável por aquela obra, se lembra?, que marcou por falhar em seu intento. Mas não vamos entrar em deméritos porque essas águas passaram, e passaram com a promessa de jamais voltarem. Fiz questão de lembrá-la apenas para dar apoio a origem do desconforto inicial desta leitura. Pois Nova Ordem Mundial é grande responsável pelo desagrado ao zapear a área de créditos da edição.

Dito isso, quem poderia imaginar que aquela leitura que começou desinteressante, quase entediante, após o arco que dá título ao luxuoso encadernado iria se revelar tão cativante quantos outras leituras já citadas nesse blog? Derrubando convicções estabelecidas e apresentando a luz a um descrente desta aclamação indevida, embora não a ponto de torná-lo mais um, mas capaz de fazê-lo compreender a relação apaixonada que os fãs de Morrison demonstram por seus textos, e sem deixar espaço para indagações quanto ao por que de tamanha adoração.

"No arco, A misteriosa Talia, filha do gênio criminoso Ra’s Al Ghul e amor efêmero de Batman, retorna com um garoto chamado Damian, o qual alega ser filho do Homem-Morcego.

Atordoado, o Cruzado Encapuzado assume a criança, mas o garoto, criado entre os brutais preceitos da Liga dos Assassinos, tem seus próprios planos. Logo, tanto Tim Drake, o recém-adotado herdeiro de Bruce Wayne, quanto o fiel mordomo Alfred se encontram na mira de um jovem geneticamente perfeito e completamente furioso.

Damian é apenas um garoto mal orientado tentando se provar ou teriam os vários anos de doutrinação de Talia o tornado um agente unicamente preparado para destruir Batman?"

A premissa traz algo de novo mas não é nada genial, e a trama não traz profundidade a mente dos personagens... o maior erro, de longe. E grande parte deste erro, acredito, se dá por uma ausência notada com muito pesar: a Narrativa em Off. Fator decisivo para o êxito na trama de um personagem como Bruce Wayne por sua mente fértil e sempre em movimento, o que torna o recurso uma necessidade real para acompanharmos o passo a passo na progressão da trama, seguindo suas ideias e o entendimento que faz destas em sua mente. Realmente uma falta sentida. Contudo, ainda que nas primeiras 4 edições que formam o arco inicial do encadernado haja poucos diálogos, vale ressaltar que eles cumprem seu papel para a trama seguir em frente. Apenas não se aprofundam na mente do Homem Morcego. Ainda assim, essa falta foi o ponto inicial para reafirmar a certeza da supervalorização de Morrison e, por extensão, grande responsável pela falta de interesse na leitura que muito critiquei interiormente enquanto leitor do primeiro arco.

Seguindo em frente a trancos e barrancos, como não sou homem de largar o serviço pela metade, avancei na leitura e tudo começou a mudar ao alcançar o interlúdio, onde encontrei minha redenção  embora o desconfiômetro se fizesse presente e não a permitisse ser definitiva , ao me deparar com uma efusiva inversão de papeis numa sequencia de 10 capítulos que desprezam padrões, onde os textos, que anteriormente considerei escassos demais para melhor apreciação, tomam o espaço de praticamente toda a página e as figuras inspiradamente desenhadas por John Van Fleet servem como pilares icônicos para encontrarmos nelas uma breve representação do clímax que Grant Morrison, magistralmente, narra como um gigante da escrita. Com isso, não entenda que a arte é menos importante que o texto em uma HQ pelo simples fato de que seria um erro e, principalmente, por não ser essa a afirmação. Mas, que, entre arte e texto, no resultado final, para melhor apreciação se quem se sobrepor ao outro não for o texto. Hmmmmm... melhor nem seguir em frente.

Sim! A narrativa em off faz muita falta para a mente de Bruce Wayne e me fez acreditar que estava diante de mais uma leitura massante e desprovida de prazer, e que Grant Morrison era um escritor comum, nada próximo ao deus da escrita que os comentários apaixonados de seus seguidores deixam transparecer pela internet afora. Mas BATMAN e Filho é o tipo de trama que melhora (cresce) conforme evolui, e precisa dessa evolução para se estabelecer para o leitor e então conquistá-lo. Pouco antes do final  e agora sim de forma definitiva , ao apresentar, após o interlúdio, as consequências da revelação da paternidade de Bruce Wayne, a trama se provou eficiente e conquistou seu leitor descrente. Mas é coroada com louvor no derradeiro capitulo que fecha o encadernado, onde as primeiras páginas confundem mais do que explicam, para, em seguida, nos fazer perceber que se trata de uma grande, e inesperada, reviravolta. Valeu apena.

Hoje, depois de saborear cada momento, bom ou nem tanto assim, desta leitura, não consigo ver Grant Morrison com os olhos de tempos atrás. Não o encaro como um gênio da escrita, mas, nem de longe, tem lugar na lista dos Comuns, assumindo cadeira cativa ao lado dos escritores que merecem respeito.

O encadernado de luxo da Panini possui
capa dura, 204 páginas em papel couché, reúne
as edições de Batman 655 a 658, e 663 a 666 e custa R$ 55,00 .

2 comentários:

  1. Eu acompanho o Batman fielmente nos quadrinhos há décadas. Considero o trabalho do Morrsion à frente do personagem bastante irregular. Mas criação do Damian foi a sua melhor contribiuição. A dinâmica dele com Bruce Wayne e com Dick Grayson (quando assumiu o manto temporariamente) renderam e ainda rendem momentos muito interessantes...

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    1. Muito bom saber disso, Marlon. Pois, na estante, o arco A Luva Negra, que segue os acontecimentos de BATMAN E Filho, aguarda na fila o seu momento de "Leitura da vez".

      Eu realmente gostei da trama. Gostei mais depois de concluí-la, onde fui capaz de perceber que precisava se estabelecer para fazer sentido, e agradar.

      Valeu pela presença!!!

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