28 de outubro de 2015

O complexo de Smaug em A Regra do Jogo.

A Regra do Jogo não precisa ser defendida.

Seja pelo roteiro de João Emanuel Carneiro (que está a altura de seus maiores sucessos como A Favorita, de 2008, e Avenida Brasil, de 2012): seja pela cristalina iluminação de cada cena; seja pela fotografia de primeira ou pela direção de Amora Mautner, é tudo de primeiríssima qualidade.

É a novela mais interessante do horário desde Avenina Brasil.

Isto posto, o mesmo não se pode dizer da equipe de montagem dos capítulos, apesar de a novela estar muito acima de tudo o que qualquer outro autor foi capaz de alcançar no horário desde Celebridade (novela de Gilberto Braga, tão ágil e rica em conteúdo quanto a atual). A equipe de pós-produção parece ser o elo mais fraco da composição. Aos que duvidam, convido a resgatar em memórias a maneira brilhante como eram utilizados os ganchos de cena (das que criavam tensão para o comercial as de encerramento do capítulo) e a trilha sonora sonora que parecia conversar com a trama. Pra te ajudar no resgate dessas memórias, cito o "Assim você mata o papai" na voz do cantor Bruno Cardoso, que funcionava como bordão de humor, e anunciava mais uma crise de ciúmes do popular Leléco (do genial Marcos Caruso) com sua jovem namorada Tessália (de Débora Nascimento).

Em A Regra do Jogo essa conversa entre entre as artes não acontece.

O que é ainda mais triste é reconhecer que o que fez da linguagem do JEC um autor diferenciado, é, aqui, deixado totalmente de lado quando vemos os capítulos terminarem em um gancho ilusório. Ou você duvidou em algum momento que o Romero JAMAIS atiraria em Atena? Fala sério, JEC, suas sequencias finais de cada capítulo estão lembrando muito maneira errônea como o diretor Peter Jackson utilizou o dragão Smaug na trilogia cinematográfica o Hobbit -- todo mundo sabe que o início do terceiro filme, onde vemos a devastação da cidade do lago, deveria ser o final do segundo. Assim são os finais do seu capítulo. Sempre que vemos a continuação no dia seguinte, temos a impressão de que seu início está fora de lugar. Que deveria ter sido o desfecho do dia anterior.

JEC, você nos ensinou que não merecemos ser enrolados com cada capítulo de suas duas novelas anteriores. Que tal revisitar a sua fórmula e parar de interromper em sua metade?

Sim, porque, quando você terminou um dos capítulos anteriores com o Romero convidando Tóia a morar em sua casa, deixando a resposta ao convite para o dia seguinte, foi um tiro no pé. isso porque, além de, no dia seguinte, estarmos fora da emoção da cena quando veio a resposta, já a tínhamos recebido em um dos comerciais que anunciava as emoções do dia no novo capítulo.

Tire o complexo de Smaug de sua trama e termine seus capítulos nos finais dos mesmos, e não no início dos próximos.
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