5 de dezembro de 2012

HOMEM-ARANHA NOIR 2: A Face Oculta

Do descartável ao fundamental.

Se no primeiro volume de HOMEM-ARANHA NOIR o resultado final foi confuso, sua sequencia se revelou muito bem definida no que se refere aos sentimentos que a jornada de Peter Parker provocou. E se não fosse a já citada insistência em, num impulso consumista, comprar "tudo" o que o selo Panini Books publica em capa dura, jamais descobriria que um universo que pareceu desinteressante desde as primeiras páginas da história que o estabelece poderia se elevar tanto em nível de qualidade em uma segunda tentativa. Ainda mais por ser desenvolvido pela mesma equipe criativa de seu antecessor. Mas é bom quando somos surpreendidos. E quando a surpresa é sincera, então. . .

HOMEM-ARANHA NOIR 2: A Face Oculta foi uma surpresa inesperada.

Nova York, 1933. Os efeitos da Grande Depressão continuam a ser sentidos, mas Franklin Roosevelt começa a restaurar a esperança dos norte-americanos. Até Peter Parker — mais conhecido como o Homem-Aranha — acredita num futuro de justiça e igualdade social. Mas ele não contava com o Mestre do Crime, que tomou o lugar do Duende como senhor do submundo nova-iorquino! Que papel tem a Gata Negra, o Doutor Octopus e o Homem-Areia em tudo isso?

A trama não tem medo de sua força, e isso fica claro quando essa força é usada contra o leitor, violentando-o enquanto o leva a mergulhar num universo onde o preconceito é a base moral e os personagens que lutam contra ele não são nada além de ferramentas para a criação de uma era onde as raças estarão visivelmente separadas por aqueles que sabem comandar e aqueles que desaprenderam a questionar o que quer que seja, restando-lhes apenas a submissão àqueles que impõem sua voz de comando. Nessa dança, o Mestre do Crime, cuja identidade é desconhecida por leitores e personagens, é quem possui a voz mais forte e o responsável por tecer a teia perversa que acaba por envolver figuras como Otto Octávius – numa versão cadeirante e ainda mais doentia –, Felicia Hardy, Robbie Robertson e Peter Parker em um caminho sem volta, que não finalizará sem deixar marcas tortuosas em suas vidas.

Por mais forte que o argumento seja, o roteiro, embora muito bem elaborado e mais nocivo por aqui, não se revela um momento inesquecível como leitura, e a arte ainda é incapaz de embebedar os olhos por repetir os mesmos problemas do passado nas constantes expressões de sofrimento. Mesmo assim, o resultado final é compensador. Garante a sensação de história concluída, e faz a leitura valer a pena.

Pra finalizar, o Homem-Aranha do universo Noir se revela um herói com profundidade por se mostrar humano o bastante para perder a cabeça e chegar ao extremo da violência, mas não possui a essência do Homem-Aranha que conhecemos no universo contemporâneo. E a máxima não vale somente para ele, vale para todos os personagens. Pois não reconheço neles os seus homônimos da versão original. Isso mesmo: Homônimos! Porque o espetáculo foi estabelecido, mas, usando de analogia, o elefante rosa que atraiu milhares de olhos apaixonados por sua singularidade agora é cinza  ou voltou a ser   e, por mais que ainda esteja ali, no centro do picadeiro, não possui a magia de ser rosa. Magia essa que vem da certeza de que elefantes rosa não existem. E o Peter Parker do qual estamos falando também não. Porém, a magia de se defrontar com um elefante rosa, por mais tingido que seja, é única. Mas se deparar com um Peter Parker tingido, seja lá da cor que você definir, não.

O encadernado de luxo Panini Books possui
capa dura, 106 páginas em papel couché e
reune as edições 1 - 4 da revista Spider-Man Noir: Eyes Without a Face.
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